sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O cigarro, a cinza, o medo ( o café )e suas conseqüências - Parte II

Ela desceu as escadas largando seu cigarro comprado avulso, e seguiu rumo ao que considerava seu alento. Deitou-se, acomodou-se um pouco na cama daquele jeito, como sempre fazia para que o sono viesse. Uma posição que só acontecia e só se explicava quando ela se deiatava predisposta a uma sono de refúgio.
O sino da igreja batia e ela contava. Aprendeu os mecanismos de contagem das badaladas. Antes só sabia se perder nos sons das águas, mas agora o ruído que a fazia adormecer mudara. Em poucos minutos estava em pleno sono.
Tinha resolvido que seria melhor daquele dia em diante...que não fumaria mais nenhum cigarro avulso e nem seria ingrata com sua família e seu queridos. Prometeu, no auge da sua benevolência, que buscaria ser melhor do que tinha sido e que seria gentil, amorosa e amiga. Não que não tivesse sido até então, mas sabia que lá no fundo ela tinha em sua índole a irracionalidade e o instinto muito fortes dentro de si. Isso por vezes a incomodava. Mas ela desejava isso do fundo de seu coração. Desejava ser simples, fácil e pouca.
Desejava que sua ancestralidade não sobrepujasse a sua racionalidade.
Com tantos devaneios ela levantou-se, fez um café, sentou-se na mesa da cozinha e acendeu um cigarro.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Palavras são palavras

Esse texto foi mandado pela amiga Valéria.
Bonito e bom pra refletir


Li uma vez na introdução de uma monografia que o que transforma as sociedades não é a arte e sim as guerras. Custei um tempo para aceitar isso, logo eu que sou do campo da arte. Porém, hoje entendo o que isso queria dizer. E, é bem isso, só uma guerra, um desastre para abrir um espaço, uma lacuna, uma trégua. Somente uma desgraça de tal tamanho para desarmar, afrouxar e ver como temos seguido no mundo e como estamos encaminhando nossa sociedade.
A catástrofe nos obrigou a um “stop” para despertarmos os nossos sentidos já tão amortecidos pelo Shopping Center. Que espaço fértil esse do território de anônimos.
Importante será o pós-trauma, o momento de eterna vigilância, porque o manto capitalista está ali, logo ali, bem pertinho, pronto para nos abrigar, pronto para acariciar um por um, individualmente. Nada de derramar o manto sobre todos, aliás, coletividade é uma palavra que não combina com capitalismo.
Nossa grande vizinhança se uniu, e precisa manter-se unida para criar um olho bem grande, um olho do bem, e enfim este olho manter um olhar firme, atento e desapegado. Desapegado do material excessivo, mas apegado aos afetos fraternos. Desapegados dos livros e seus autores, mas apegado a uma palavra de amor. Despegado da palavra escrita, mas atento a palavra proferida.
Enfim aqui meu desejo de uma vida de amor, uma palavra utópica, escassa de nosso vocabulário, tão limitada em nossos atos (e que tem me perseguido em reflexões nestes últimos tempos). Amor, palavra que alberga em si, outras, como respeito, solidariedade, carinho, abraço, beijo, olhar, perdão, compreensão. Amor, esta é a palavra-chave para esse momento tão frágil, onde as necessidades básicas do ser humano estão em risco. Amor que não mata a fome do corpo, mas alivia o coração, alimenta a alma.
Não há outra palavra que não dor e urgência, para expressar esse momento da cidade de Itajaí, então aqui, estendo às atitudes de todos que estão diariamente na prática de auxiliar na resolução das necessidades básicas de toda população, meu respeito com amor.
A todos dessa linda cidade, a todas as famílias que convivo na Murta, no Brejo, no Campos Novos, São Vicente, Pró-morar, a todos os colegas do Sinpro, a todos os Professores, a todos os artistas, a todos os trabalhadores, a todos os jovens que mostraram sua força, a todos os incansáveis voluntários, a todos os homens e mulheres dessa cidade, a todas as crianças que brincaram na chuva e na lama e me fizeram sorrir onde nada mais tinha graça… Reafirmo a palavra AMOR.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O cigarro, a cinza, o medo e suas conseqüências

Com o cigarro na mão, ela observava o movimento das pessoas lá em baixo. Existia um certo cuidado para cada atitude. Esse seres moviam-se cuidadosamente, um cuidado excessivo. Cuidavam com seus carros, suas bicicletas, cuidavam ao atravessar a rua, cuidavam com seu corpos frágeis e efêmeros.
A cinza do cigarro crescia e ela não conseguia mais fumar. Um enjôo se abateu sobre ela.
O que seria de nós se não tivéssemos medo?
Cuidadosamente ela apagou o que restava de seu cigarro, limpou a lágrima que inundava o seu olho e desceu as escadas rumo ao seu alento.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Alarme!


















Itajaí e muitas cidades de Santa Catarina estão em estado de calamidade. A situação é muito trágica. Hoje os supemercados foram saqueados e muitas desorganização ainda. O voluntariado é exepcional....nisso estamos de parabéns.

Peço a todos que puderem, que contribuam como possam. Tudo é bem vindo!

Abraços.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

um sei lá pra tantas coisas

Onde foi que perdi a capacidade do sorriso?
Ou será mesmo que houve perda?
Onde será que estão os meus olhos pequenos de tanto rir?
um rosto sulcado de rugas...
uma vida cheia de sorrisos

pelo que me parece
andar na rua já não faz mais sentido
tropeçar nas pedras nem pensar
e havia uma pedra no meio do caminho....
e havia outra e mais outra

hoje as ruas estão asfaltadas
não ha buracos,nem pedras e nem caminho
quanto custa meio metro de asfalto,moço?
quanto custa pra assoprar a minha dor?

sábado, 8 de novembro de 2008

A banalização do teatro

Bom, não é de hoje que o teatro virou qualquer coisa. Isso até que eu já estou acostumada. Mas gente, por favor, vamos combinar que tem coisas que dá vontade de denunciar, né? Vontade de gritar na hora e armar um barraco daqueles. Acho que deveríamos fazer isso, sem medos e pudores.
Bom, explico:
Ontem fui ao teatro levar minha mãe que quase nunca vai ao teatro apesar da filha ( eu) ser atriz. Mas enfim, aos 74 anos não espero dela que haja uma mudança cultural. Ok, fui ao teatro levá-la para assitir "Vidas Divididas" um espetáculo com o Henri Castelli, Fernanda Vasconcellos e dirigida por Marcos Paulo. Eu particularmente não vou ao tetaro ver global, mas como minha mãe queria eu acompanhei-a.
A peça é horrível! MAs isso eu já sabia, nenhuma novidade! Ver o Henri Casatelli de cuecas, a Fernanda corpão de calcinha e de peito de fora...isso eu já sabia, nenhuma novidade. Quase dormi, a peça não acabava nunca. Minha mãe aos 15 min da peça já esboçou um descontentamento. Lá pelas tantas me disse: - Fraquinha né? Eu prefiro mil vezes a tua peça , filha! Tá, não sei se foi um elogio ou o quê, mas sei que ela tinha a intenção de elogiar, claro! Depois de uma hora e meia de bobagens eu pensei alto: - isso não acaba??? e eis que a luz apaga pela décima oitava vez e quando acende os atores agradecm...pera ái??? não entendi!!!! Acabou???? Uai, podia ter acabado então na segunda vez que deram black. Bah....o povo aplaudiu, levantou-se e houve, da parte dos "atores", o agradecimento formal e bla bla bla....minha pensamento estva longe, no jantar que estava sendo feito lá em casa...estava com muita fome!
Mas eis que então aconteceu, o que foi a maior besteira que já ouvi de agardecimento:
O Henri agradeceu a um amigo dele que estava assitindo a peça ( que eu pensei ser alguém da cidade). Não sei se escutei direito, mas acho que ele falou " Reinaldo Gianechini" e pediu uma salva de palmas para ele. Saí do meu torpor de fome e quase gritei: - Palmas? pra ele? por quê???? POR ELE EXISTIR??? Ah, faça o favor...bater palmas pra alguém que está na cabine e que nem se dignou a assitir o espetáculo como um simples mortal???? Bahhhhh.....que nojo! Mais nojo ainda tive do público, que quase surtou e aplaudiu alguém que eles nem viram. Aplaudiram uma pessoa por ela não ter feito nada pra ser aplaudida!!!! Eu queria gritar mais ainda. Queria falar que o povo é burro e que vai continuar sendo burro...
Bom, como não falei ontem em frente a todos, deixo aqui registrada a minha garnde indignação.
Obrigada pessoas, por lerem...

domingo, 26 de outubro de 2008

Nudez

Estávamos todos naquela casa e dormíamos. Alguns. Outros se acendiam em conversas pra lá de quentes. Uns com seus dramas pessoais. Outros, com pessoas mais que dramáticas. O sangue fervia entre pernas, copos, urinóis e redes. O indício que a noite seria agitada e de que algo muito importante aconteceria era visível.
Um homem, em trajes sumários, passa pela cozinha em direção à rua gritando desesperado vendo seu automóvel quase que destruído totalmente pelo fogo.
Desespero, gritos, pessoas se esbarrando nos corredores da casa minúscula.
A casa dos cômodos transparentes se acendia como incêndio em selva virgem e deixava transparente também todas as relações que se enclausuravam entre as paredes. Era como se o sol estivesse saído antes do tempo e pego todos de surpresa.
Nada se entendia sobre o fogo, o carro e os homens daquela casa. Todos estavam entorpecidos com seus desejos acordando. A nudez da casa e das pessoas era maior e mais visível nos olhos do que no corpo.

sábado, 11 de outubro de 2008

Aguardo

Por mais que Glaci lavasse o sofá, uma mancha circular incomodava o tecido antes homogêneo. Exausta, ela desistiu.

( Gregore Haertel )

sábado, 27 de setembro de 2008

A menina que manchava as toalhas

Todas as manhãs ela fazia a mesma coisa. Das fendas da janela escapavam uns raios de luz que avisavam que o dia raiava. O sono não a deixava romper a aurora e ela corria a se aninhar no fundo da cama.
O sol se cansava de avisar que o dia já estava ali. O sol agora não brilhava mais. Ele se acostumava com a permanência.
E a menina permanecia na cama abraçada ao abraço que a mantinha ali. Os braços que a apertavam eram macios, suaves...
A menina cai da cama num salto...o sol se assusta com o seu pulo e derrama na toalha da mesa o seu raio. A menina corre. Pula os passos leves no chão frio da sala que ainda dorme.
A menina com ciúmes do sol, derrama também sua marca na toalha de mesa da sala que até então dormia. A toalha segue os dias lembrando que a menina esteve ali.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

[A vida encharcada de L]


Enquanto L torcia a roupa encharcada que pingava grandes gotas dentro do tanque encardido, seu suor manchava tênue a disfarçadamente a camisa que cobria a sua pele infestada com as digitais das mãos que haviam percorrido seu corpo minutos antes.
Não havia parte desse corpo que não tivesse sido tocado por essa impressão. Cada pêlo, poro, fio, sonho. Tudo!
L se sentia cansada. Mas havia no seu rosto uma cor diferente. Parecia uma vela acesa em cada maça de seu rosto.
L se sentia cansada, sim. Mas torcia a roupa com força, sem se dar conta que amassava também todas as lembranças que já não estavam mais ali.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

[teus pés ]

Os teus pés
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce pesosobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpurados teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram vôo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,p
equena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram sobre a terra
e sobreo vento
e sobre a água,
até me encontrarem.
Pablo Neruda

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

novas pérolas antigas


Sem muito tempo pra escrever coisas criativas e sem ter momentos de inspiração ( não por não estar inspirada e sim por nao ter tempo de colocá-las como se devem no papel- blog), disponibilizo os meus momentos de papo com filhos na hora do almoço ( nossos momentos divertidos) nos quais ele sempre me conta algumas pérolas de seus amigos. Vamos lá?


- Cara, todo mundo descende de todo mundo!!!!!!
____________________________________________________________________

Alguém num momento de discussão:

- Porra, o que importa é o que interessa!!!!!

e eu rindo dessas besteiras.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Resposta Vaga

Diálogo esquisito:
Dois amigos conversam depois de um tempo se se verem:


- Oi K, beleza?
- Oi J, beleza.
- Que que tem feito, tá trabalhando?
- Não, agora tô só investindo na banda.
-Ah é? E o que é que que tu tá fazendo?
- Ah, tô dando o melhor de mim!!!!

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

sábado, 30 de agosto de 2008

Ode ao amor

Amo o amor que se reparte
em beijos, em pão.

Amor que pode ser eterno
mas pode ser fugaz.

Amor que se quer liberar
para seguir amando.

Amor divinizado que vem vindo
amor divinizado que se vai.

(Pablo Neruda)

domingo, 24 de agosto de 2008

Revisitando filmes de chorar


Então... Um tal de ver filmes que já vi e acabar chorando demais com eles.
Agora foi a vez de "Invasões Bárbaras".
Um filme cana"denso"...do Quebec, acho. Ele vai fundo em alguns questionamentos, principalmente ao americanismo, à globalização, à discriminação das drogas e à permanência dos valores- que estão acima de qualquer ideologia.
Um filme de encontros e despedidas com diálogos prá lá de memoráveis!
Vale a pena ver de novo!



domingo, 3 de agosto de 2008

A vida é como um talharim



Pela terceira vez assisti "Valentim" e fui pega novamente e, talvez, ainda mais hoje, pela sensilbilidade e simplicidade que esse filme possui.
Chorei copiosamente do começo ao fim do filme.
Valentim, o protagonista do filme, narra a sua triste e conturbada história de vida de uma maneira graciosa, alegre e emocionada. Vive com a avó ( Carmen Maura) que ficou viúva recentemente e ainda sofre com a perda do marido. Além do sonho de ter uma família comum, cultiva a vontade de ser astronauta (como desculpa para fugir dos problemas desse planeta)
.
A narrativa desse garoto que vê a vida ( existência) através de óculos gigantes e um olhar "torto" toca-nos os 85 minutos de filme. Não há pausa pra nada. Só há olhos pra mirar e ouvidos pra escutar a voz doce desse garotinho que tenta consertar essa vida que ele considera como " Um talharim: as vezes dá certo outras não"

Vale muito a pena ver.

Em homenagem a Valentim, o almoço de hoje foi uma tentativa que deu certo!




sexta-feira, 11 de julho de 2008

Muda!!!!!!!!!

Muda!
Muda, eu disse!
Hum essa palavra pode parecer que eu esteja muda, sem voz, afônica mesmo pois ha um mês que não posto nada nesse blog. Quem sabe seja por isso a minha dor no estômago, a minha ansiedade abusiva, a minha compulsão por não fazer nada e uma falta de vontade de fazer tudo.
Pensei: "vou escrever algo hoje", afinal, acordei cedo e não tenho um compromisso urgente esta manhã...( por mais que estude, na hora esqueço como usar o pronome demonstrativo em relação ao tempo, só sei em relação ao espaço). Bah....Muda!
Ah, voltando ao "muda".
Férias chegando, um ar de tranquilidade na casa...todos dormem depois de dias conturbados que antecedem as provas. Nem mesmo a Preta quis levantar cedo hoje.
Muda!!!
Tá bom, vou falar.
Não, Muda!!!!
Hâ?
É o imperativo!!!!
Ok, Mudei...

domingo, 8 de junho de 2008

Esquina de lágrimas


Parada naquela esquina, achava que era mais uma que havia despertado longe do ninho. As lágrimas caíam numa sucessão incontrolável, brotavam e lançavam-se como alguém que se lança em queda livre.

A tarde começava a cair e o sol se desmanchava na grande extensão das montanhas longe, onde provavelmente ela queria estar.

Voltar pra casa, acender a luz e encontrar lá os móveis cobertos com a poeira que se assentava durante todos aqueles dias em que não estivera lá.

Pensou.

Não o fez.

Estava ali sem conseguir mover um braço, um dedo sequer.

A água escorria abundante e sumia depressa na boca de lobo à sua frente. Ela pensou por um segundo que eram suas lágrimas que encontravam um caminho, mesmo que esse caminho fosse o encontro com os ratos e baratas e mijos e fezes da cidade. Mas não. Suas lágrimas não tinham a sorte desse encontro. Suas lágrimas se perdiam ao descer em queda livre pelo corpo ressecado.

Seu olho já não via mais, assim como não sentia mais o frio nem o calor e nem o vento. Todos os seus sentidos estavam anestesiados. Ela já nem mais pensava.

Ela ouviu de repente, e som daquela buzina a tirou do torpor em que se encontrava nos últimos dias, quem sabe meses.

Subiu até o seu apartamento. Acendeu a luz e encontrou lá os móveis cobertos com a poeira que se assentara durante todos aqueles dias em que não estivera lá.

sábado, 7 de junho de 2008

Pescaria ( Poema de Rafaello)

( poema com bom humor)


Mulher meu pexin

Do molhe te vi

Joguei a vareta

Pra ver no que dava


Me escapuliu

Comeu charutin

E foi passear

Com outra amiguin

Depois vem faceira

Pr´outro charutin

Balança o corpin

Brilhando no sol

Tanta formosura

Meus olhos refletem

Já não vejo nada

Escapa outra vez

Ta fogo pescar

Esse exemplar

São tardes e noites

Ali a tentar

Mas não posso mais

Já cansei de vir

De me emocionar

De tanto tesão

Se chega é garrincha

No maracanã

Se nem ta aí

É o caos que vivi

Tomei consciência

Atum enlatado

Dá menos trabalho

E também tem teu Omega 3.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Abra seu coração ou eu arrombo a janela

Tudo bem, na verdade não é bem isso. É que eu ando um pouco "agressiva".
Mas eu juro que to tentando me deter...

sábado, 24 de maio de 2008

No sofá


Naquele sofá, deitada, nada podia comprometê-la. Entra e sai, conversas, risadas e ela lá, impassível no seu silêncio.
Pensou em como seria tudo diferente se ela não estivesse ali, naquele estado.
Ainda não conseguia entender como o silêncio era perturbador. Mas ela também queria o silêncio.
Não, ela não queria o silêncio, ela queria aquele estardalhaço da vida gritando que ainda era tempo de fazer algo. O silêncio era somente o que havia sobrado.
Lembrou da última vez que algo lhe incomodou... e a única lembrança que teve eram seus olhos verdes.

domingo, 11 de maio de 2008

a incrível capacidade de cortar que certos corpos possuem

Há uma linha que a divide ao meio deixando-a à mercê do corte. A Lâmina é fria e há que se ter cuidado para não sangrar demais. Há que se cuidar para que o corte não seja profundo e que não deixe marcas ou cicatrizes irreversíveis.

Era feliz assim, mas não sabia a densidade da lâmina que corta, que perfura e fere o tecido virgem da sua etérea carne.

E as mãos que pretendem percorrer sua alma devem ser suaves e densas, frenéticas e calmas, tranqüilas e nervosas, tocando os seus sentidos inversos e sem medidas.

Não quer suavizar o medo. Há que se ter medo sim. Quer impressa a saliva alheia na sua ferida aberta e que toque profundo na sua tosca dor.

Tosco é o amor que não se deixa sangrar.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A vida velha de S ( título inspirado na Alzira)

Ele tem mãos grossas, frias e enrijecidas. Ele tem o coração mais seco que aquela uva passa do natal passado.
Ele já não gosta mais daquele som que antes o despertava feliz
Ele olha várias vezes a mesma forma insalubre do contorno da sala. Seus móveis estáticos e enfermos. Sua vida controlada por um radar.
Ele atravessa o corredor de 2 metros que o leva pra outro plano. Lá, ele encontrará a mão que o acalentará do adágio que é o seu dia. Morno e silencioso!



sábado, 12 de abril de 2008

Ensaio sobre Lúisa

Andei coibida da escrita. Temperamento solto vagando por aí.
Me deu uma vontade louca de escrever tudo com h no meio, na esperaça de reaver, talvez, o tempo de soltar pipas.
Durante dias pensei na forma exata de encaminhar tudo, de segurar o tempo, de blasfemar contra a sorte. Durante dias esperei o telefone tocar pra me tirar dessa angustia que é viver por viver. Cheguei a ouvir ( ler) que eu deveria me amar mais...(pra quê?) eu me amo o suficiente!
Fiz e refiz várias canções, tentei acreditar nelas, dancei, ensaiei, comi, fui ao teatro, andei de carro com os vidros abertos pra bagunçar muito os meus cabelos que pretendo cortar.
Sonhei, tive insônia ( como agora) cozinhei, enjoei, fiz regime...pedalei 9 Km em 20 minutos e me senti cansada por isso. Falei pouco, houvi muito, mas sem prestar atenção naquilo que era dito. Somente viajei nas coisas e no momento que penso poderia ter durado muito mais. Mas o tempo é assim, sempre ali pra dizer que ja se passaram 18 hs do dia e que ele está se esgotando.
Corro pra casa pra ele passar mais rápido, pro outro dia chegar e eu tornar a esperar o telefone tocar. Alguma coisa apenas.
Um velho casaco desmanchado e o novelo caído ao lado da cadeira. A promessa de não mais desmanchá-lo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cinco mulheres e duas garrafas de café

- hum...
- bom?
-prova!
-húúúúúmmmm
- bom mesmo?
- experimenta!
-humhúm!
- agora tá faltando tu provar, né????
- que tal?
- hummmmmmmmmhummmmmm
- hahahahaha....só falta eu!
- vai vai...e faz um "hum" diferente....
- humhumiuhumhuhmhuhmhu

( encontro das atrizes do vale do Itajaí)

sábado, 5 de abril de 2008

Coisa Séria!


(Uma reflexão feita sobre nossas raízes) Meio extenso, eu sei, mas quem sabe...


Plural, mas não Caótico


“...Sou Pataxó, sou Xavante Cariri, Yanomani sou Tupy, Guarani sou Carajá...sou Pancarurú, Carijó Tupinajé, Potiguar sou Caeté, Funiô Tupinambá....” Letra de uma música cantada, dançada e tocada por Antônio Nóbrega, artista que reúne todas estas qualidades e por isso denominado de “artista polivalente”; termo que a mim soa redundante pois que para ser artista é quase que necessário ser um pouco de tudo; vem traduzir um pouco das palavras escritas por Alfredo Bosi, ensaísta e crítico literário, em seu texto “Plural, mas não Caótico” no qual mostra-se evidente as diferentes influências culturais a que estamos e estivemos sujeitos ao longo dos anos.

Tudo o que somos, ou melhor, o que viemos construindo desde muito tempo, é uma somatória das marcas deixadas pelos nossos antepassados. É Necessário fazermos uma retrospectiva dos fatos para termos a devida compreensão de quem somos.

Antes mesmo da nossa colonização, como diz Nóbrega em sua música, já éramos Tupis, Guaranis, Caetés e tantos outros índios que habitavam estas terras. Mas não deixamos de ser, apenas fomos somando outras características, fomos nos misturando, criando novos ritmos, novas identidades., enfim acumulando informações. Podemos tentar ir além e ver que até mesmo as raças que perpetuavam-se entre si mesmas, foram de certa forma transgredindo essas regras, e como toda regra que tende a ser transgredida, surgem as raças que não são puras. Ora, podemos falar em pureza, perante tanta degradação a qual o ser humano sofreu diante de tanta barbárie e que se diziam perpetuadores da raça nobre? Assim, desvelando o manto que cobre regras e preceitos, a natureza do homem fala mais alto e promove-se a mistura delas.

Bosi, em seu texto, fala-nos do Caos que a princípio isso pode parecer, mas adverte que é necessário que nos distanciemos um pouco desse olhar simplista e generalizado para que então contemplemos tudo novamente, mas agora com uma nova mirada.
Hoje, certas hábitos afastaram-se do nosso cotidiano. Podemos perfeitamente escolher nossos maridos e esposas (salvo algumas seitas, religiões e alguns países) criar nossos filhos de uma maneira livre e um tanto quanto independente, escolher o nosso presidente assim como também destituí-lo, e várias outras coisas que em épocas remotas não podíamos fazer. Em contrapartida, temos a “ Perda da Memória Social” termo usado por Bosi, e que define bem o momento em que vivemos dentro desta sociedade que aliena suas próprias fantasias, suas próprias aspirações devido ao mecanismo ensandecido da tecnologia.
Há de se concordar, que os apelos a que somos submetidos todo o momento nas propagandas que se superam a cada dia; destinadas a um consumidor que há tempo perdeu a noção do que é realmente necessário para sua sobrevivência.; caracterizam o nosso momento socio-cultural e artístico. Tudo está inserido num ritmo muito industrializado, acelerado. Poderíamos usar as palavras do autor “...descartável...”.
Concordando com a profundidade na qual mergulhou o autor para as definições sobre este assunto que traz a tona toda a identidade de uma nação, me questiono também sobre quem seria essa “outra cultura”, e se realmente ela existe.
Ele nos diz, “de uma classe capaz de resistir ás baterias da civilização de Massa”, aqueles que teriam como suporte “sua capacidade de resistência”, atentando para dois tipos de classes. A Pobre, iletrada e a erudita. É claro que ao meu entender, o autor dirige-se a classe pobre, iletrada, mas também a que possui no seu íntimo a tradição muito arraigada, e que constitui algo perene em suas vidas. Assim, ela não se deixa contaminar tão facilmente pois que possui algo em que acreditar, algo em que se valer, consequentemente, perpetua seu ritual e seu folclore.
Já nas classes teoricamente elitizadas, o que o autor quer dizer é que existe algo que vem sendo adquirido por intermédio de uma escolarização, de um letramento que o difere dos outros no que toca a massificação por intermédio do que lhe é permitido apreender. Temos aquele que nada leu, nada conheceu além da produção massificante da industria dos signos. Logo, não terá referências para comparar, e aceitará tudo o que lhe estiver disposto mais facilmente e que não represente nenhuma dificuldade aos seus sentidos.
Essa velocidade de informações , aliada ao desdém com que são tratados os signos convertidos em arte, chegam ao mesmo tempo que desaparecem, e nenhuma importância fundamental lhes é dado, tornando-o vazio.

Em contrapartida, penso que não nos é dado o direito de questionar a “existência” da tecnologia, a qual, acredito de importância fundamental no progresso da humanidade, mas creio ser de suma importância atentarmo-nos para a maneira pela qual se está sendo difundida, seu valores, sua ética, sua forma, enfim, para que ela seja o veículo que promova o crescimento de uma cultura e não o acomodar-se dela. Porém, se sustentarmos a pré-condição de liberdade como forma atuante das ideologias artísticas e culturais, não estaremos nos prendendo ao formalismo que obstrui o canal criativo.

Segundo Bosi, a cultura “superior” seria em modos simplificado, a responsável pela perpetuação dos ideais culturais de uma nação, sendo que os mesmos teriam como condição básica o “ritmo da consciência histórica”. Esse ritmo estaria relacionado à possibilidade de fazer uma análise mais apurada o que comporia um dado importante no crescimento e perpetuação dos valores histórico-culturais.

Já no Brasil, esses fatos apresentam oscilações no que tange as relações com os diversos centros que influenciam nosso cotidiano. Somos a todo o momento questionados sobre a nossa existência, sobre a nossa cultura. Mas se pararmos para refletir, como nos sugere o autor deste ensaio, buscar na nossa consciência a verdadeira forma de pensar, nos mais intrínsecos hábitos que norteiam a nossa existência, mergulhando nas profundezas da nossa essência, podemos fazer ressurgir daí a nossa verdadeira cultura, que como toda cultura, é diversa, mas de maneira alguma, pode-se dizer caótica.

BOSI, Alfredo (org). Plural, mas não caótico. In: Cultura Basileira: Temas e situações. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1999, pp 7-15.

terça-feira, 25 de março de 2008

Na Pizzaria

Na pizzaria, depois de um domingo de Páscoa de trabalho, a Cia experimentus toda decidindo que pizza comer. A moça ( nossa conhecida) esperando pacientemente com o caderninho na mão a nossa decisão.

Após a escolha:

Jô: - Essa pizza pode ser feita em 5 minutos? Estamos com muita fome!( em tom de brincadeira)

Moça: - 5 minutos eu não sei, mas que vai ser mais rápido que o pedido, vai!

(risadas na mesa)

Marcelo ( chegando) : - O que tá acontencendo????

Hahahaha...os estereótipos do grupo!

Beijos

segunda-feira, 17 de março de 2008

Haikai

Comprei uma caixa de band-aid, mas não consigo estancar o sangue e fazer parar a dor!

sábado, 15 de março de 2008

Frase do dia


“Meu coração sofre a compulsão de não ver o que a razão cansou de enxergar”




sábado, 8 de março de 2008

Vou de Crase

A discussão foi essa:

Devo usar o acento que caracteriza a crase quando eu digo: -Fui (a) (à)Bahia comprar acarajé?
A resposta:

Nos casos de ir a aulgum lugar- nesse caso, a Bahia- se vc puder dizer: Voltei da Bahia, há a ocorrência da crase, sim! Quando eu volto (de) algum lugar não há a ocorrência da crase.

Resposta:

e se eu queiser ficar por lá?

(tem coisas que a gramática não explica)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Objeto Direto/ Indireto and the both

Objeto Direto.
Alguém sabe pra que serve? E o Indireto? Alguém pode me dizer?
Onde vamos usá-lo em nossas vidas pessoais?
Metáforas podem ser feitas...cadê a transitividade dos pensamentos? Ah, não! São as ações que são transitivas...eu sou tão poética que me perco no mar da objetividade dos O.D e dos O.I...e quando eles são as duas coisas? Nossa! Daí então que não sei mais o que fazer!
Transitare...trânsito... movimento...eu não páro!
Calma, calma....xenta e fuma xigaio!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Valsa da Solidão


Hoje acordei ouvindo a Roberta Sá. Ela sempre me inspira com a sua voz e o belíssimo repertório que escolheu.

Alegria, era o que faltava eu mim... eu sei que teus beijos e abraços, tudo isso não passa de pura hipocrisia!
Mas a linda mesmo eu vou postar aqui

Valsa da solidão, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho

Onde estava tanta estrela que eu não via

Onde estavam os meus olhos que não te encontravam

Onde foi que pisei e não senti

O ruído dos teus passos em meu caminho

Onde foi que vivi

Se nem me lembro se existi

Antes de você

Ah! Foi você quem trouxe essa tarde fria
E essa estrela pousada em meu peito
Ah! Foi você quem trouxe todo esse vazio
E toda essa saudade, toda essa vontade de morrer de amor.

Beijinhos




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Espelho

Ela gostava de se vestir com as roupas dele. Jurava que no espelho poderia imitá-lo. Escondida, durante a noite, ia pé ante pé até o banheiro, abria a porta que tinha a maçaneta redonda e grande. Empurrava o pino e lá ficava escondida, brincando. Às vezes tinha medo das coisas que poderia encontrar. Uma vez encontrou uma caixinha, muito pequena mesmo, essas de colocar anel, mas não teve coragem de abri-la.
Ele se vestia com a blusa que ele deixava pendurada no gancho atrás da porta. Enchia o pequeno rosto com aquela espuma de barbear que mais parecia um chantilly, o mesmo chantilly que sonhava ter no seu bolo de aniversário. Mas eles nunca comemoravam nenhuma festa. Olhava-se agora com toda aquela espuma e ficava adivinhando ele no espelho. Imitava-o no gesto do barbear, criando caminhos com o próprio dedo no meio de toda aquela espuma e, do mesmo jeito que ele fazia, mastigava a língua pra fora da boca. Ah, isso era o que ela mais gostava.
Ele não! Ele gostava de poucas coisas. Bem poucas. Ela acreditava que as coisas que ele mais gostava cabiam numa bolsa apenas. A Capanga, como ele chamava.
Um dia, ela arriscou-se a olhar o que realmente havia lá.

[ tetxo escrito durante o processo do Espaço em Aberto]


quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Aos filhos e aos Pais



"Quando pequena costumava me olhar no espelho para adivinhar meu pai. Sentia um espécie de saudade de mim. A mesma saudade que costumava sentir nas tardes de domingo ao ouvir sem querer algum rádio nas redondezas transmitindo uma partida de futebol. (...) quando escutava em algum rádio das imediações fiapos de algum jogo, sentia essa tal saudade em mim, como se eu fosse meu próprio pai encoberto naquela voz possante que com o tempo ia ficando quase a improvável voz de ninguém."

( João Gilberto Noll)

Foto na Estação Vereza, local de ensaio do Espaço em Aberto

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Poema sem nome

( ess é dedicada ao Enzo. Fez parte da oficina...me derreta, me derreta...)

Sou o pó dessa estrada

Deixe-me quieto

Já faço parte dela.

Não percorras esse caminho

Pois não quero existir.

Quero a calmaria dos ventos

A quietude dosa passos

E uma chuva bem fina

Que me derreta,

Subtraia

Me reduza a uma simples lembrança

de perfume

de terra molhada

domingo, 27 de janeiro de 2008

Crônica do Desdesejo



[ Brincando de inventar palavras]


Domingo à tarde. Um dia daqueles! Vontade de não fazer nada, nem ao menos pensar! Pensar é que eu não quero mesmo, depois daquele sábado trerriveloso. Bom, mas não adianta: pensar não é preciso, escrever é preciso. Peguei a caneta e o papel. O que dizer, ou melhor, o que tornar matéria dentre tantos despensamentos. Bom, já estou pensando. Queria falar sobre tantas coisas e sobre nada ao mesmo tempo.

Lá fora o gato miava. Uma miasseira que aos meus ouvidos soava como um pedido. Acho que fiquei incomodada com o barulho ou, talvez, por não entender o que ele queria. Tentei me concentrar e ver se entendia. Bobagem! Não se pode entender a língua dos gatos. Somente os gatos podem. Verdade? Mas por que não? Reduvidei!

Hoje o dia não está bom, nem pra mim nem para os gatos... somos todos incompreendidos.

Liguei a TV e estava no canal do Faustão. Não sei porque insistem em deixar neste canal, todos sabem que só vejo a Globo no horário do jornal, e olhe lá!!! Canal 11, uma moça dançava sozinha num palco escuro. Essas danças modernas, dançadas ao som de uma música clássica. Tão clássica que não se consegue compreender, mas, quem disse que se tem que compreender algo? Dançava maravilhosesimamente. BRAVO! Gritei. Mas será que ela compreendia a classidês daquela música? Será que ela imagina o que estava escrito naquelas partituras que ecoando nos ares, penetrando em nossos ouvidos ancorando sumariamente em nossos sentidos? Será que não era somente deixar a técnica da dança tomar conta dos sentidos e criar a própria história daquela música? Seria isso interpretar o desinterpretável?

O gato continua miando, e eu, deslembrando do meu intuito de despensar. Como se pudesse controlar o desejo de desdejar.

Um barulho repentino me provoca um sobressalto. Um assalto? Não! Apenas o gato. Sim, o gato a saltar sobre a fechadura da porta. O desejo do gato é incontrolável. Levanto e vou até a cozinha. Ele vem atrás num pulo. Simples...ele só queria comer.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Insônia

Este texto faz parte do momento de criação do Projeto "O Espaço em Aberto".
Visite tmbém o endereço: www.oespacoemaberto.blogspot.com


O Espaço. Algo que se abre em mim pra esvaziar o que lembro.
Local onde escapam gritos que me fazem ainda acordar.
São trens,trilhos,choros, gritos, risos,brinquedos, medos. A velha casa que tinha buracos, que fazia baulho. Que assutava e acolhia. Imagens na memória que se esquece pra lembrar depois. Depois, a noite aparece pra ssustar a criança que não dorme. A casa dorme e a criança não.
- Mãe, só dorme depois que eu dormir, tá?
A criança ainda não dorme. A criança cresceu e ainda é criança.

[ particularmente, hoje foi uma noite de insônia]

sábado, 19 de janeiro de 2008

Agravante

A solidão
sozinha se cura
na secura do vento
soprando


A solidão
polidas palavras
escolhidas
o sentir
é só momento
que no desmentir
agrava, abrava

A solidão tem pena
condena
tem trema
que trema
que pena

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Trem

O trem passa todos os dias pela minha cidade. Todos os trens vão e vem, e, junto, vão os sonhos, lembranças, dores, amores. A saudade explícita daquele lugar. Um deles, pelo menos.

Os caminhos, as pedras, as praias. Parece que tudo ainda possui cheiro e gosto. A necessidade de se fotografar na memória certas coisas, tornam-nas mais reais. Hoje ainda conservo certos odores, como se não pudessem deixar de existir.

Mas o trem insiste em passar. E nas janelas os sonhos se revelam no olhar triste de um velho barbudo. Os cabelos desarrumados e um leve brilho colorindo os brancos fios que insistem em aparecer. São as marcas do tempo que vai se acomodando nas camadas de poeira das soleiras. O tempo que não envelhece.

Todas as coisas envelhecem e vão para o museu. Olhamos para elas com olhar sacralizado. Mas na verdade elas são velhas. Velhas como o senhor barbudo que atravessa os trilhos antigos caminhando sobre os dormentes num alternar de pernas cansadas e dormidas. Como a criança que pula a extensão de suas pequenas pernas na tentativa de alcançar o passo seguinte. Não há diferenciação para o trilho. Para ele não importa o velho ou a criança. Ele é como o tempo que se deixa passar, indiferente e alheio às nossas vontades.

As coisas envelhecem e não sofrem. Eu gosto das coisas.

O tempo não envelhece.

O trem continua como o tempo. E leva.