sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Espelho

Ela gostava de se vestir com as roupas dele. Jurava que no espelho poderia imitá-lo. Escondida, durante a noite, ia pé ante pé até o banheiro, abria a porta que tinha a maçaneta redonda e grande. Empurrava o pino e lá ficava escondida, brincando. Às vezes tinha medo das coisas que poderia encontrar. Uma vez encontrou uma caixinha, muito pequena mesmo, essas de colocar anel, mas não teve coragem de abri-la.
Ele se vestia com a blusa que ele deixava pendurada no gancho atrás da porta. Enchia o pequeno rosto com aquela espuma de barbear que mais parecia um chantilly, o mesmo chantilly que sonhava ter no seu bolo de aniversário. Mas eles nunca comemoravam nenhuma festa. Olhava-se agora com toda aquela espuma e ficava adivinhando ele no espelho. Imitava-o no gesto do barbear, criando caminhos com o próprio dedo no meio de toda aquela espuma e, do mesmo jeito que ele fazia, mastigava a língua pra fora da boca. Ah, isso era o que ela mais gostava.
Ele não! Ele gostava de poucas coisas. Bem poucas. Ela acreditava que as coisas que ele mais gostava cabiam numa bolsa apenas. A Capanga, como ele chamava.
Um dia, ela arriscou-se a olhar o que realmente havia lá.

[ tetxo escrito durante o processo do Espaço em Aberto]


2 comentários:

Anônimo disse...

o que o que o que???????

texto fudido de bom! a gente vai vendo tudo.. e no melhor da bolsa, CORTA!

fico esperando pelo espetáculo.
bjão!

gregory haertel disse...

A capanga. só isso já situa o texto. ótimo.
fui obrigado a escrever sobre o 'casa' no meu blog.
beijos