domingo, 11 de agosto de 2013

O espelho! Homenagem ao dia dos Pais


Ela gostava de se vestir com as roupas dele. Jurava que no espelho poderia imitá-lo. Escondida, durante a noite, ia pé ante pé até o banheiro, abria a porta que tinha a maçaneta redonda e grande. Empurrava o pino e lá ficava escondida, brincando. Às vezes tinha medo das coisas que poderia encontrar. 
Uma vez encontrou uma caixinha, muito pequena mesmo, essas de colocar anel, mas não teve coragem de abri-la.

Ela se vestia com a blusa que ele deixava pendurada no gancho atrás da porta. Enchia o pequeno rosto com aquela espuma de barbear que mais parecia um chantilly, o mesmo chantilly que sonhava ter no seu bolo de aniversário. Mas eles nunca comemoravam nenhuma festa. Olhava-se agora com toda aquela espuma e ficava adivinhando ele no espelho. Imitava-o no gesto do barbear, criando caminhos com o próprio dedo no meio de toda aquela espuma e, do mesmo jeito que ele fazia, mastigava a língua pra fora da boca. Ah, isso era o que ela mais gostava.

Ele não! Ele gostava de poucas coisas. Bem poucas. Ela acreditava que as coisas que ele mais gostava cabiam numa bolsa apenas. A Capanga, como ele chamava.

Um dia, ela arriscou-se a olhar o que realmente havia lá.

quarta-feira, 20 de março de 2013

MARATONA CULTURAL





NOTA DE CANCELAMENTO DO ESPETÁCULO 
"DOIS AMORES E UM BICHO" NA 3a. MARATONA CULTURAL


A Cia Experimentus informa a tod@s que está se retirando da programação da 3a. Maratona Cultural de Florianópolis, evento no qual apresentaria o espetáculo “Dois Amores e um Bicho” no dia 24/03, decisão esta informada hoje à produção do evento. 

Quando inscrevemos nosso espetáculo em dezembro de 2012 haviam informações de que a terceira edição da Maratona seria realizada com recursos Lei Rouanet, e naquele momento entendemos que este cobriria seu valor integral, não havendo participação do Governo do Estado. No entanto, quando saiu a divulgação da programação no website do evento há algumas semanas, vimos veiculada no material de mídia o Governo do Estado como patrocinador e a Prefeitura Municipal de Florianópolis como co-realizadora, não havendo no site a logomarca da Lei Rouanet. 

E por que não participar de um evento custeado pelo Governo do Estado?

O descaso e a arbitrariedade com a qual a cultura catarinense vem sendo tratada pelo Governo do Estado tem desencadeado diversas manifestações de repúdio, a exemplo das ações do Fórum Catarina e do movimento Ocupa CIC, apenas para citar duas recentes, que no ano passado deram ampla visibilidade a diversas irregularidades ocorridas, tais como a aprovação de projetos que sequer passaram pelo Conselho Estadual de Cultura, este que legalmente deveria ser o responsável por tal processo, enquanto outros projetos, tais como o Prêmio Cruz e Souza, o Salão Victor Meirelles, o Prêmio Cinemateca Catarinense, e o Festival Catarinense de Teatro, projetos aprovados pelo Funcultural, não foram pagos pelo Governo do Estado. 

Na última semana, mais um destes absurdos veio à tona com o cancelamento do espetáculo “Kassandra”, que teve de ser retirado da programação da Maratona Cultural, por ter como espaço de apresentação o Bokarra Club. Segundo o jornalista Rafael Martini (da Coluna “Visor” / Diário Catarinense) a decisão teria vindo do governador, Sr. Raimundo Colombo, que determinou que o espaço de apresentação fosse retirado da programação por se tratar de casa de diversão adulta, e não havendo sentido em realizar a peça em outro espaço “moralmente aceitável” o grupo preferiu retirar-se do evento. 

Entendemos que esta ação específica desrespeita a curadoria realizada a partir da inscrição de trabalhos artísticos diversos feita em 2012 pelo website do evento, seleção esta que é um processo democrático rompido por uma ação que julgamos arbitrária e moralista. Mas esta ação é apenas a ponta do iceberg.

Mesmo reconhecendo a importância da Maratona Cultural, não concordamos que um evento artístico tenha de ser refém das deliberações do Governo do Estado, por correr riscos de sua não viabilização. Seja por moralismo ou por qualquer outro motivo, entendemos que não é direito do poder público decidir que tipo de arte pode ou não ser vista, e principalmente que tipo de projetos devem ou não ser pagos. Entendemos isto como um desrespeito aos processos legais instituídos para a seleção de projetos culturais a serem beneficiados com a rescisão de impostos destinada à cultura catarinense. 

Lamentamos pelo público que perderá mais um espetáculo da programação, contudo, como artistas e cidadãos, não podemos concordar com estes acontecimentos, e aqui registramos nosso repúdio retirando nosso trabalho da programação. 

Cia. Experimentus / Itajaí - SC