quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Aos filhos e aos Pais



"Quando pequena costumava me olhar no espelho para adivinhar meu pai. Sentia um espécie de saudade de mim. A mesma saudade que costumava sentir nas tardes de domingo ao ouvir sem querer algum rádio nas redondezas transmitindo uma partida de futebol. (...) quando escutava em algum rádio das imediações fiapos de algum jogo, sentia essa tal saudade em mim, como se eu fosse meu próprio pai encoberto naquela voz possante que com o tempo ia ficando quase a improvável voz de ninguém."

( João Gilberto Noll)

Foto na Estação Vereza, local de ensaio do Espaço em Aberto

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Poema sem nome

( ess é dedicada ao Enzo. Fez parte da oficina...me derreta, me derreta...)

Sou o pó dessa estrada

Deixe-me quieto

Já faço parte dela.

Não percorras esse caminho

Pois não quero existir.

Quero a calmaria dos ventos

A quietude dosa passos

E uma chuva bem fina

Que me derreta,

Subtraia

Me reduza a uma simples lembrança

de perfume

de terra molhada

domingo, 27 de janeiro de 2008

Crônica do Desdesejo



[ Brincando de inventar palavras]


Domingo à tarde. Um dia daqueles! Vontade de não fazer nada, nem ao menos pensar! Pensar é que eu não quero mesmo, depois daquele sábado trerriveloso. Bom, mas não adianta: pensar não é preciso, escrever é preciso. Peguei a caneta e o papel. O que dizer, ou melhor, o que tornar matéria dentre tantos despensamentos. Bom, já estou pensando. Queria falar sobre tantas coisas e sobre nada ao mesmo tempo.

Lá fora o gato miava. Uma miasseira que aos meus ouvidos soava como um pedido. Acho que fiquei incomodada com o barulho ou, talvez, por não entender o que ele queria. Tentei me concentrar e ver se entendia. Bobagem! Não se pode entender a língua dos gatos. Somente os gatos podem. Verdade? Mas por que não? Reduvidei!

Hoje o dia não está bom, nem pra mim nem para os gatos... somos todos incompreendidos.

Liguei a TV e estava no canal do Faustão. Não sei porque insistem em deixar neste canal, todos sabem que só vejo a Globo no horário do jornal, e olhe lá!!! Canal 11, uma moça dançava sozinha num palco escuro. Essas danças modernas, dançadas ao som de uma música clássica. Tão clássica que não se consegue compreender, mas, quem disse que se tem que compreender algo? Dançava maravilhosesimamente. BRAVO! Gritei. Mas será que ela compreendia a classidês daquela música? Será que ela imagina o que estava escrito naquelas partituras que ecoando nos ares, penetrando em nossos ouvidos ancorando sumariamente em nossos sentidos? Será que não era somente deixar a técnica da dança tomar conta dos sentidos e criar a própria história daquela música? Seria isso interpretar o desinterpretável?

O gato continua miando, e eu, deslembrando do meu intuito de despensar. Como se pudesse controlar o desejo de desdejar.

Um barulho repentino me provoca um sobressalto. Um assalto? Não! Apenas o gato. Sim, o gato a saltar sobre a fechadura da porta. O desejo do gato é incontrolável. Levanto e vou até a cozinha. Ele vem atrás num pulo. Simples...ele só queria comer.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Insônia

Este texto faz parte do momento de criação do Projeto "O Espaço em Aberto".
Visite tmbém o endereço: www.oespacoemaberto.blogspot.com


O Espaço. Algo que se abre em mim pra esvaziar o que lembro.
Local onde escapam gritos que me fazem ainda acordar.
São trens,trilhos,choros, gritos, risos,brinquedos, medos. A velha casa que tinha buracos, que fazia baulho. Que assutava e acolhia. Imagens na memória que se esquece pra lembrar depois. Depois, a noite aparece pra ssustar a criança que não dorme. A casa dorme e a criança não.
- Mãe, só dorme depois que eu dormir, tá?
A criança ainda não dorme. A criança cresceu e ainda é criança.

[ particularmente, hoje foi uma noite de insônia]

sábado, 19 de janeiro de 2008

Agravante

A solidão
sozinha se cura
na secura do vento
soprando


A solidão
polidas palavras
escolhidas
o sentir
é só momento
que no desmentir
agrava, abrava

A solidão tem pena
condena
tem trema
que trema
que pena

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Trem

O trem passa todos os dias pela minha cidade. Todos os trens vão e vem, e, junto, vão os sonhos, lembranças, dores, amores. A saudade explícita daquele lugar. Um deles, pelo menos.

Os caminhos, as pedras, as praias. Parece que tudo ainda possui cheiro e gosto. A necessidade de se fotografar na memória certas coisas, tornam-nas mais reais. Hoje ainda conservo certos odores, como se não pudessem deixar de existir.

Mas o trem insiste em passar. E nas janelas os sonhos se revelam no olhar triste de um velho barbudo. Os cabelos desarrumados e um leve brilho colorindo os brancos fios que insistem em aparecer. São as marcas do tempo que vai se acomodando nas camadas de poeira das soleiras. O tempo que não envelhece.

Todas as coisas envelhecem e vão para o museu. Olhamos para elas com olhar sacralizado. Mas na verdade elas são velhas. Velhas como o senhor barbudo que atravessa os trilhos antigos caminhando sobre os dormentes num alternar de pernas cansadas e dormidas. Como a criança que pula a extensão de suas pequenas pernas na tentativa de alcançar o passo seguinte. Não há diferenciação para o trilho. Para ele não importa o velho ou a criança. Ele é como o tempo que se deixa passar, indiferente e alheio às nossas vontades.

As coisas envelhecem e não sofrem. Eu gosto das coisas.

O tempo não envelhece.

O trem continua como o tempo. E leva.