O tempo grunhia nas janelas do
quarto do hotel. E as mesmas coisas já não eram as mesmas coisas de ontem. Eu
deslizava radiante entre os lençóis brancos e submergia a cada suspiro mais
profundo e triste. Nada seria mesmo como antes. E, de tudo que possa ter
sentido, nada, nada realmente fazia sentido. Eu queria mesmo era procurar o
raio de sol que tinha nome próprio, e depois disso, aquecer meu corpo como no
banho que acalenta sempre minhas horas mais terríveis do dia.
Eu queria ir pra junto das
especiarias do mercado publico e me esquecer nos aromas estrangeiros ao meu
olfato. Mas tudo suplicava o meu retorno, e eu não mais queria as mesmas
coisas. Eu já era diferente. Eu já estava diversa e na iminência de uma
aceitação clandestina. Sentia vergonha, às vezes, chorava. Mas isso de nada
iria importar. O choro era só mais uma consequência das horas de solidão que
também de nada importava. O senhor sol, a dona lua e todos os pronomes e nomes
adjetivados nada poderiam fazer par destilar as angustias do meu momento. E foi
assim que me vi, atenta às súplicas do meu corpo que transgredia os limites do
que me era acessível até o momento. E me fui forçada, como que com uma faca nas
costas, a dizer sim a essa vida. Era ela que me dizia pra seguir adiante, que
nada podia além de continuar caminhando, apesar dos novos sapatos.
Um comentário:
vc gritou: libertas quae sera tamen???
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