sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O cigarro, a cinza, o medo ( o café )e suas conseqüências - Parte II

Ela desceu as escadas largando seu cigarro comprado avulso, e seguiu rumo ao que considerava seu alento. Deitou-se, acomodou-se um pouco na cama daquele jeito, como sempre fazia para que o sono viesse. Uma posição que só acontecia e só se explicava quando ela se deiatava predisposta a uma sono de refúgio.
O sino da igreja batia e ela contava. Aprendeu os mecanismos de contagem das badaladas. Antes só sabia se perder nos sons das águas, mas agora o ruído que a fazia adormecer mudara. Em poucos minutos estava em pleno sono.
Tinha resolvido que seria melhor daquele dia em diante...que não fumaria mais nenhum cigarro avulso e nem seria ingrata com sua família e seu queridos. Prometeu, no auge da sua benevolência, que buscaria ser melhor do que tinha sido e que seria gentil, amorosa e amiga. Não que não tivesse sido até então, mas sabia que lá no fundo ela tinha em sua índole a irracionalidade e o instinto muito fortes dentro de si. Isso por vezes a incomodava. Mas ela desejava isso do fundo de seu coração. Desejava ser simples, fácil e pouca.
Desejava que sua ancestralidade não sobrepujasse a sua racionalidade.
Com tantos devaneios ela levantou-se, fez um café, sentou-se na mesa da cozinha e acendeu um cigarro.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Palavras são palavras

Esse texto foi mandado pela amiga Valéria.
Bonito e bom pra refletir


Li uma vez na introdução de uma monografia que o que transforma as sociedades não é a arte e sim as guerras. Custei um tempo para aceitar isso, logo eu que sou do campo da arte. Porém, hoje entendo o que isso queria dizer. E, é bem isso, só uma guerra, um desastre para abrir um espaço, uma lacuna, uma trégua. Somente uma desgraça de tal tamanho para desarmar, afrouxar e ver como temos seguido no mundo e como estamos encaminhando nossa sociedade.
A catástrofe nos obrigou a um “stop” para despertarmos os nossos sentidos já tão amortecidos pelo Shopping Center. Que espaço fértil esse do território de anônimos.
Importante será o pós-trauma, o momento de eterna vigilância, porque o manto capitalista está ali, logo ali, bem pertinho, pronto para nos abrigar, pronto para acariciar um por um, individualmente. Nada de derramar o manto sobre todos, aliás, coletividade é uma palavra que não combina com capitalismo.
Nossa grande vizinhança se uniu, e precisa manter-se unida para criar um olho bem grande, um olho do bem, e enfim este olho manter um olhar firme, atento e desapegado. Desapegado do material excessivo, mas apegado aos afetos fraternos. Desapegados dos livros e seus autores, mas apegado a uma palavra de amor. Despegado da palavra escrita, mas atento a palavra proferida.
Enfim aqui meu desejo de uma vida de amor, uma palavra utópica, escassa de nosso vocabulário, tão limitada em nossos atos (e que tem me perseguido em reflexões nestes últimos tempos). Amor, palavra que alberga em si, outras, como respeito, solidariedade, carinho, abraço, beijo, olhar, perdão, compreensão. Amor, esta é a palavra-chave para esse momento tão frágil, onde as necessidades básicas do ser humano estão em risco. Amor que não mata a fome do corpo, mas alivia o coração, alimenta a alma.
Não há outra palavra que não dor e urgência, para expressar esse momento da cidade de Itajaí, então aqui, estendo às atitudes de todos que estão diariamente na prática de auxiliar na resolução das necessidades básicas de toda população, meu respeito com amor.
A todos dessa linda cidade, a todas as famílias que convivo na Murta, no Brejo, no Campos Novos, São Vicente, Pró-morar, a todos os colegas do Sinpro, a todos os Professores, a todos os artistas, a todos os trabalhadores, a todos os jovens que mostraram sua força, a todos os incansáveis voluntários, a todos os homens e mulheres dessa cidade, a todas as crianças que brincaram na chuva e na lama e me fizeram sorrir onde nada mais tinha graça… Reafirmo a palavra AMOR.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O cigarro, a cinza, o medo e suas conseqüências

Com o cigarro na mão, ela observava o movimento das pessoas lá em baixo. Existia um certo cuidado para cada atitude. Esse seres moviam-se cuidadosamente, um cuidado excessivo. Cuidavam com seus carros, suas bicicletas, cuidavam ao atravessar a rua, cuidavam com seu corpos frágeis e efêmeros.
A cinza do cigarro crescia e ela não conseguia mais fumar. Um enjôo se abateu sobre ela.
O que seria de nós se não tivéssemos medo?
Cuidadosamente ela apagou o que restava de seu cigarro, limpou a lágrima que inundava o seu olho e desceu as escadas rumo ao seu alento.