domingo, 27 de setembro de 2015

Jardim de inverno

As margaridas e as Petúnias estavam lindas!
A menina sonhou. E nesse sonho ela estava no cinema com seus amigos de tantos anos. Eles eram poucos, mas eram aqueles amigos de longa data, de anos, diria, de séculos.
No cinema eles levaram travesseiros, cada qual o seu. Mas o filme era daqueles que não tem imagem. A menina não entendia bem porque não conseguia ver o filme. Sempre que ela estava de olhos abertos, o filme sumia. Então ela cochilava, dormia um pouco. Aí, o filme aparecia. Não que ela visse algo, eram os amigos que diziam que tinha aparecido a imagem na tela.
Todos saíram do filme comentando, falando do quanto tinha sido bom. Mas ela realmente não sabia do que se tratava a história.
Eles saíram do cinema e esqueceram os travesseiros. Esqueceram também onde tinham que ir pra pegar o ônibus. Estavam perdidos.
Já passava das 23h e a rua estava totalmente deserta. Não havia mais ônibus e um breu se formou. Eles agora não sabiam voltar para casa. Então perguntaram pra 3 rapazes que passavam por ali como faziam para ir até o ponto de ônibus mais próximo. Não havia. Só havia uma estrada e ela era muito longa e com muitas, mas muitas dificuldades.
A menina não acreditava que havia só aquele caminho. Ela não queria ir por ali. Mas os amigos de longa data não hesitaram e seguiram. E ela foi junto até uma parte, mas ainda inconformada com aquela situação. Pararam na casa de uma mulher idosa que ficava bem no meio da estrada e a menina foi perguntar à velha senhora se aquele caminho iria mesmo até o lugar que eles queriam ir. A senhora idosa disse meio em dúvida que sim, aquele caminho levava até aquele lugar, mas que era um caminho difícil, cheio de obstáculos. 
A noite estava escura, e os amigos foram subindo a longa estrada de terra e buracos. A menina ficou ali, pensando no que fazer. Então passaram muitas coisas pela cabeça da menina. Muitas mesmo. Toda a sua vida ela esteve junto a eles e agora eles estavam indo. Ela pensou em ficar ali, talvez para nunca mais sair. Pensou também no que poderia acontecer se ela fosse atrás dos amigos. Pensou na possibilidade de alguma coisa boa acontecer no percurso, talvez encontrar um castelo com reis, mestres e a tão esperada paz.
No meio de tantas dúvidas e vendo o tempo fugir das mãos, bem como o afastamento dos amigos queridos, ela saiu em disparada estrada à cima, com a respiração ofegante de tão alta que era a subida. Ela gritava que a esperassem e eles assim o fizeram. Ela conseguiu alcançá-los e, dali em diante, eles seguiram juntos. Mas a partir dali começavam os obstáculos. Um rio fundo e cheio de animais que apareciam nos surpreendendo. O chão do rio era de lodo, e cobras subiam nas pernas ameaçando-nos sem aviso. Javalis velozes passavam por nossos corpos amedrontando-nos. E o bando seguia. Mas agora era a menina que ia à frente, puxando com coragem e determinação os amigos que vinham atrás. Chegaram numa casa para pedir mais informações sobre qual caminho levava ao lugar que eles queriam ir. O velho senhor que estava na casa apontou uma porta. A menina abriu, e um pequeno corredor se fez perante os olhos dela e cautelosamente foi andando. Mais portas foram surgindo, e ela foi abrindo. Cada vez o caminho era mais estranho e impossível de levar a qualquer lugar. Mas agora eles não podiam desistir. Seguiram em frente.
Chegaram numa sala e lá encontraram duas mulheres jovens. Apesar de feições normais, elas não pareciam amigáveis. Então, bem em frente à porta, a que devíamos abrir pra seguir em frente, as mulheres pararam. Disseram que só poderíamos sair dali se dois de nós as servissem. Mas elas é que escolheriam essas duas pessoas do bando. Escolheram um rapaz e a menina que estava ao meu lado. Uma delas disse pra mim que eu era muito velha, que não servia para o que elas queriam.
Segurei nos braços da menina que foi escolhida e logo em seguida ela foi puxada de mim e lá estava. Entregue as malvadezas delas.
Corri para perto da porta bem logo ela se entreteve com os dois escolhidos. Os outros, como eu, ficaram parados esperando para ver o que eu aconteceria. Não sabia bem o que ela iria fazer com eles, mas esperei que o tempo passasse, precisava ter uma boa ideia para salvar todos nós dali. Enquanto ela se distraía, eu abri a porta atrás de mim para que algum dos nossos fugissem, mas nesse mesmo instante apareceu mais uma mulher trazendo notícias de algo que não conseguíamos entender. Então ela relaxou, ou melhor, se preocupou tanto com o que a outra falou que já não mantinha mais sua atenção em nós. Entrou pela porta onde as duas primeiras mulheres haviam sumido com o rapaz e a menina, para dar a notícia que nós não conseguiríamos entender. Ela deixou aberta a porta por onde surgiu e nós fugimos, porém, a porta dava para um labirinto feito de paredes brancas e sempre iguais. Sempre iguais. Sempre iguais. Não chegávamos a lugar nenhum, então pensamos em voltar, mas não sabíamos voltar. Sentei no chão, aflita, e meus amigos tão antigos sentaram comigo no meio do branco e do silencio que parecia não ter fim. Ficamos ali, sentados um dia inteiro, ou alguns minutos, ou um pouco menos, até que as três mulheres apareceram caminhando rapidamente e o rapaz e a menina vieram atrás e nos falaram: - vamos com elas!!! E fomos.

Não havia mais labirinto, nem portas, nem velhos e nem velhas, nem castelos, nem reis e nem mestres. O dia havia amanhecido e a menina acordou sem saber onde estava e também sem saber qual filme havia passado no cinema. Só sabia da lembrança do sonho, dos amigos, das escolhas e dos caminhos que sempre apareciam. Sempre novos caminhos, nem sempre certos, nem sempre errados, mas novos caminhos. Sempre!