sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Salve o tricolor Paulista!




Imagina um ser humano. Quantas coisas se passam na cabeça dele. Ele era assim, igual. Seu jeito de fazer a barba era raro. Eu o imitava, sempre que podia. As coisas pequenas, as que ninguém via, eu consegui enxergar. Lia jornal e revista com um olho só. De poucas palavras, severo, nada carinhoso. Eu tinha raiva na infância. Achava que ele gostava mais da outra, minha Irmã. Foram muitos anos assim.
De repente as coisas mudam.
Em muitos momentos da sua vida andava resoluto, tentando manter a dignidade que estava encoberta, mas existente, pelos teores alcoólicos que foram seus maiores fantasmas. A fragilidade assumia um papel decisivo na sua conduta e ele seguia indefeso e triste.
Esfregava a barriga e assobiava num gesto de desabafo. E fumava. Isso nunca me incomodou. A bebida sim. Essa eu sabia que seria sua perdição.
Eita mundo velho sem porteira! Assim estamos nós todos, soltos! E ele não tinha freios. As decidas eram sempre ladeira a baixo. Pra subir, os passos eram muito difíceis.
Mas eu amei. Comecei a amar tarde, talvez. Mas não tarde demais. Espero! Fui de mansinho, ganhando jeito e conquistando. Afinal, pra alguma coisa esse dom deve me servir. E assim foi, foi indo...de pouco, de leve. Pouco difícil, às vezes. Mas eu sei que ganhei a benção. Ele me olhou, me viu, me amou também. Hoje nós nos amamos. Ele existe aqui dentro de mim.
Homenageio-o sempre que levo comigo os seus pertences. Eu tenho esse privilégio.
Na capanga que ele guardava as coisas que ele mais gostava. E lá está ele, me olhando, com seu único olho. Ele me vê e eu o vejo. Canto o hino que é sempre em homenagem a ele. Canto pra que ele escute e veja que todos ali estão vendo o que está por ser visto. Salve, Salve o Tricolor paulista.


domingo, 30 de setembro de 2012

Epifania


Guardado nos escombros que restaram das itinerantes noites aflitivas, dragadas das profundezas calcárias dos inabitados mundos submarinos, rasgadas e arrancadas do inconsciente puro e devastador. A cada dia surgia, através de pequenos olhares subversivos e imaginários, um novo modo de pensar a vida. Ela que ficou sempre trancada em seus armazéns a sete chaves, pensando ser quase imperecível e intocável. Idealizada como algo que jamais seria corrompida pela roda que gira, pela passagem do tempo, pela impermanência.
Elle teorizava sobre a grande corrida das coisas que o cercava. Elle somente queria sentir o vento que já não era mais percebido pelas ondas de calor e frio que havia se tornado quase que rotina dos seus dias naquela cidade úmida e chuvosa.
Certo dia acordou, e sentiu a brisa suave, morna e seca, e por instantes não sabia dizer e nem sentir quem ele era. Elle, Elle, Elle. Olhou no espelho e viu que seus cabelos  tinham caído e nem se dera conta dos quantos fios que já havia colhido do chão. Bateu continência, soltou o nó da gravata, desabotoou o primeiro botão da camisa, sentou na beira da porta e olhou lá fora.
Estava sozinho como havia tempos que não ficava e isso o deixou feliz. Feliz por ter momentos de solidão.
Agora Elle precisava mudar. A porta havia sido aberta e escapava de lá a sua imensa vida trancada, hermeticamente fechada para não ser contaminada e nem corroída pela ação do tempo, pelas intempéries e tormentas que poderiam danificar quaisquer das oportunidades presas e represadas naqueles longos anos.
Então ele se esticou, respirou fundo e se deixou levar pelos pensamentos, sentindo a brisa que ainda batia suave, mas que agora ele já havia se acostumado e fazia parte daquela nova e diferente sensação que o acometia.
Então Elle dormiu e sonhou!

sábado, 18 de agosto de 2012

191- Reflexões


Esse é número de projetos inscritos na Lei Muncipal de incentivo à Cultura da cidade de Itajaí.
Eram 10 as pessoas que estavam presentes na tarde de hoje no hotel Marambaia em reunião para discutir os rumos das Políticas Públicas Culturais da nossa cidade. Estas políticas que irão reger nossa Cultura nos os próximos 10 anos, compondo o Plano Municipal de Cultura que se alinhará ao Plano Nacional de Cultura da nossa nação.
Bom. Um momento tão importante tanto para os gestores públicos, artistas e produtores da nossa cidade, e somente 10 pessoas. As mesmas, diga-se de passagem. As mesmas caras que encontramos TODAS as reuniões, excetuando alguns, que por motivos de trabalho não puderam comparecer.
Bom, fica aí a pergunta de sempre. Onde estão estas outras 181 pessoas? Quais os reais interesses destes produtores culturais em relação aos rumos da nossa cultura? Será que somente se interessam quando seus projetos pessoais não são aprovados nos editais? Onde estão estes invisíveis seres que ressurgem das cinzas somente no momento de pegar o seu quinhão depois que, ALGUNS e BEM POUCOS, lutaram para que Leis, Editais, Convênios fossem redigidos, repensados e melhorados para que TODOS pudessem usufruir?
Ah, mas isso cansa! Estamos desiludidos! Ou, ah, eu nem fiquei sabendo! Cansa sim. Eu mesma sei disso, pois estou bem cansada. E junto a mim, aquelas 9 pessoas da foto estão cansadas também. Cansadas porque, além de trabalharmos arduamente todos os dias e muitos fins de semanas, ainda encontramos tempo e fôlego para pensar no coletivo, lugar no qual estamos inseridos como seres sociais. Tô cansada sim. E sinto esse cansaço no corpo, na mente, mas principalmente na minha alma de artista que se nega a aceitar que tudo está perdido, como muitos dos colegas artistas pensam. E é por isso que eu ainda saio da minha casa, no único fim de semana que teria para descansar, e passo a tarde inteira junto a colegas leais e fiéis à Cultura da nossa cidade, para abrir espaços de discussões e traçar metas que possam dar suporte aos artistas que ainda não abriram seus olhos para aquilo que é do interesse deles mesmos.
Isso também vale aos gestores públicos, que deveriam cumprir seus papéis aos quais se propuseram. Quando eu aceito um cargo público, seja lá qual ele for, eu devo honrar o dinheiro investido no salário que é pago pelos contribuintes, ou seja, pelo povo.
Não dá mais pra pensar que estamos impunes, que nada nos afetará. A lei de causa e efeito, ação e reação vai se impor algum dia na sua vida. Se você coloca sua mão no fogo, vai se queimar. Essa é a lei!

                                    Foto: Valéria de Oliveira [completando os 10 participantes ]

sábado, 28 de julho de 2012

Ser Clandestino – Parte I



O tempo grunhia nas janelas do quarto do hotel. E as mesmas coisas já não eram as mesmas coisas de ontem. Eu deslizava radiante entre os lençóis brancos e submergia a cada suspiro mais profundo e triste. Nada seria mesmo como antes. E, de tudo que possa ter sentido, nada, nada realmente fazia sentido. Eu queria mesmo era procurar o raio de sol que tinha nome próprio, e depois disso, aquecer meu corpo como no banho que acalenta sempre minhas horas mais terríveis do dia.
Eu queria ir pra junto das especiarias do mercado publico e me esquecer nos aromas estrangeiros ao meu olfato. Mas tudo suplicava o meu retorno, e eu não mais queria as mesmas coisas. Eu já era diferente. Eu já estava diversa e na iminência de uma aceitação clandestina. Sentia vergonha, às vezes, chorava. Mas isso de nada iria importar. O choro era só mais uma consequência das horas de solidão que também de nada importava. O senhor sol, a dona lua e todos os pronomes e nomes adjetivados nada poderiam fazer par destilar as angustias do meu momento. E foi assim que me vi, atenta às súplicas do meu corpo que transgredia os limites do que me era acessível até o momento. E me fui forçada, como que com uma faca nas costas, a dizer sim a essa vida. Era ela que me dizia pra seguir adiante, que nada podia além de continuar caminhando, apesar dos novos sapatos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dia de hoje!




Um inverno se aproximou de mim hoje. Já havia me esquecido como era...como deveria fazer pra passar o frio, pra juntar as folhas, pra me aquecer. Queria a lareira acesa, o som tocando alto, a vida pulsando aqui dentro.
Já havia me esquecido da dor que penetra nos ossos, na face, nas vontades mais urgentes e nas mais insignificantes. Aliás, no frio elas são iguais.
Esse frio constante abaixo de um sol escaldante.
Esse frio cortante