O trem passa todos os dias pela minha cidade. Todos os trens vão e vem, e, junto, vão os sonhos, lembranças, dores, amores. A saudade explícita daquele lugar. Um deles, pelo menos.
Os caminhos, as pedras, as praias. Parece que tudo ainda possui cheiro e gosto. A necessidade de se fotografar na memória certas coisas, tornam-nas mais reais. Hoje ainda conservo certos odores, como se não pudessem deixar de existir.
Mas o trem insiste em passar. E nas janelas os sonhos se revelam no olhar triste de um velho barbudo. Os cabelos desarrumados e um leve brilho colorindo os brancos fios que insistem em aparecer. São as marcas do tempo que vai se acomodando nas camadas de poeira das soleiras. O tempo que não envelhece.
Todas as coisas envelhecem e vão para o museu. Olhamos para elas com olhar sacralizado. Mas na verdade elas são velhas. Velhas como o senhor barbudo que atravessa os trilhos antigos caminhando sobre os dormentes num alternar de pernas cansadas e dormidas. Como a criança que pula a extensão de suas pequenas pernas na tentativa de alcançar o passo seguinte. Não há diferenciação para o trilho. Para ele não importa o velho ou a criança. Ele é como o tempo que se deixa passar, indiferente e alheio às nossas vontades.
As coisas envelhecem e não sofrem. Eu gosto das coisas.
O tempo não envelhece.
O trem continua como o tempo. E leva.
3 comentários:
adoro esse texto...
binevenida ao mundo dos blogueiros...
beijocas
uepa!
"ela é uma de nós agora".
kkkkkkkkkkkkkkkkk
amei "desdesejo", amo tudo que tem "des".
amei também o lay out meio faroeste, consigo ouvir o barulho daquela porta pequena de madeira do bar, abrindo e fechando.. e o primeiro texto falando de trem, ajuda mais ainda!!
bjonzon!
Passei por aqui, grande beijo
Dani
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