Querido diário.
Hoje vou começar a te escrever. Peço licença pra começar assim tão tarde da vida, pq geralmente quem escreve diários são as jovens ilusionadas pelo porvir da vida. Não que eu não me sinta jovem, mas sei que já tenho uma longa caminhada nessa vida. Por isso, muitas vezes vou trazer aquelas lembranças da infância, juventude e também de dias e anos atrás.
Bom, a necessidade hoje de escrever essas palavras, surgiu de uma perda. Sim, a perda de uma querida prima, que apesar de morar há 2 mil km de distância, exerce lembranças muito frescas na minha memória infantil.
Nossa história, como já falei, começou na infância. Mas a principal personagem dessa nossa etapa da vida foi a minha tia Marli. Sim, ela que hoje é minha comadre e a quem eu amo muito e respeito pela linda trajetória de vida dela. Ela que nos proporcionava esses momentos inesquecíveis, que uma criança nunca irá esquecer. Devo dizer que a Miriam era uns três anos mais velha do que eu e isso fazia que eu a visse com um olhar de admiração. Às vezes eu realmente achava que ela arrumava umas confusões, pois ela era intensa. Sim, esse é o adjetivo que eu encontrei para a definição simplória da minha lembrança.
Não sei de que signo ela era, mas ela devia ser de algum signo de fogo, pois ela tinha essa qualidade do fogo que transforma as coisas. Na verdade não gosto de usar essa palavra “qualidade”, pois as pessoas vão achar que ela se designa a alguma virtude. Até pq eu acredito que qualidade pode ser boa ou ruim. Claro, se eu achar que a “qualidade” de uma pessoa é ser “boazinha”, posso me deparar com pessoas que acham que ser “boazinha” é um defeito.
Voltamos a Miriam. Ela era intensa, forte, explosiva. Mas também carinhosa, humana, pronta pra defender os direitos dos mais necessitados. Tá bem, eu não posso falar muito, pois não estava presente nesses anos todos desde nossa infância. Mas presenciei situações nas quais pude ver a força que ela tinha pra fazer um mundo melhor, tanto pra ela como para os ouros. Imagino que quem a conheceu melhor possa ter outras impressões sobre ela. Mas gostaria aqui de pedir licença pra ficar com as minhas impressões, elas me satisfazem e me enchem de alegria em poder relembrar.
Lembro-me de quando ela resolveu ir morar na França por uma decepção amorosa. Achei aquilo de uma bravura imensa. Lógico, a dor daquela decepção foi forte demais e ela precisava mudar de ares. Lá ela tinha a companhia da Márcia, irmã mais velha dela. Aliás, queria dizer aqui que estou falando da Miriam, mas que poderia passar o dia escrevendo aqui dos meus cinco primos que fizeram parte dessa saga chamada “infância”. Também tenho outros primos e primas que tenho histórias maravilhosas pra contar, querido diário. Essas histórias serão contadas em outro pôr do sol! (como diria o fofão)
Bom, outra situação de que lembro muito bem, foi há alguns anos, mais ou menos uns oito. Fui a Cuiabá a trabalho e resolvi passar uns dias a mais pra poder ficar com minha comadre e rever minhas primas, primos, sobrinhos etc. Numa das noites fomos tomar uma cerveja e combinamos de encontrar com Miriam. E pra minha surpresa, ela estava igual. Aquele mesmo sorriso, aquela mesma energia, aquele mesmo olhar caloroso. Foi incrível. Foi a última vez que a vi. Mas sempre via pelas telinhas internéticas que ela continuava forte no seu propósito. Ela era Assistente Social, ela era mãe de 3 filhos lindos, ela era aquela mulher guerreira que fazia questão de contrariar alguns padrões. Como sempre foi, desde a infância.
Querido diário, vc pode ver que sei muito pouco sobre Miriam, minha visão sobre ela é de poucas palavras, mas a admiração é grande.
Sei que ela deve ter enfrentado muitas situações de escolhas, acertos e erros (como já disse, o que são e pra quem são esses “acertos e erros”, não podemos julgar). Mas acredito que ela teve uma vida coerente com seus desejos. Falo isso, pois sei que as pessoas que estavam ao lado dela só têm a agradecer. Eu agradeço por ter tido uma prima tão forte e maravilhosa. Mas o uso aqui do passado é pra dizer que ela partiu. Partiu disso que chamamos mundo real. Mas eu quero propor uma experiência pra quem um dia possa ler esse diário.
Vamos supor que a gente vá dormir. No nosso sonho nós estamos vivendo uma situação qualquer, como por exemplo, estamos casando com alguém que amamos muito. Nossa sensação é de estar muito apaixonada, uma felicidade imensa surge por aquela pessoa. Então acordamos e nos deparamos com nosso companheiro ou companheira ao lado, na cama. O que vc acha que isso significa¿ Que não vivemos aquele sentimento¿ Mas se naquela hora era tão real pra nós, como podemos dizer que não estávamos lá.
Assim podemos avaliar que Miriam ainda está conosco, no sonho, na vida, num lugar em que nunca vamos tirá-la da gente. No nosso coração