sexta-feira, 18 de abril de 2008

A vida velha de S ( título inspirado na Alzira)

Ele tem mãos grossas, frias e enrijecidas. Ele tem o coração mais seco que aquela uva passa do natal passado.
Ele já não gosta mais daquele som que antes o despertava feliz
Ele olha várias vezes a mesma forma insalubre do contorno da sala. Seus móveis estáticos e enfermos. Sua vida controlada por um radar.
Ele atravessa o corredor de 2 metros que o leva pra outro plano. Lá, ele encontrará a mão que o acalentará do adágio que é o seu dia. Morno e silencioso!



sábado, 12 de abril de 2008

Ensaio sobre Lúisa

Andei coibida da escrita. Temperamento solto vagando por aí.
Me deu uma vontade louca de escrever tudo com h no meio, na esperaça de reaver, talvez, o tempo de soltar pipas.
Durante dias pensei na forma exata de encaminhar tudo, de segurar o tempo, de blasfemar contra a sorte. Durante dias esperei o telefone tocar pra me tirar dessa angustia que é viver por viver. Cheguei a ouvir ( ler) que eu deveria me amar mais...(pra quê?) eu me amo o suficiente!
Fiz e refiz várias canções, tentei acreditar nelas, dancei, ensaiei, comi, fui ao teatro, andei de carro com os vidros abertos pra bagunçar muito os meus cabelos que pretendo cortar.
Sonhei, tive insônia ( como agora) cozinhei, enjoei, fiz regime...pedalei 9 Km em 20 minutos e me senti cansada por isso. Falei pouco, houvi muito, mas sem prestar atenção naquilo que era dito. Somente viajei nas coisas e no momento que penso poderia ter durado muito mais. Mas o tempo é assim, sempre ali pra dizer que ja se passaram 18 hs do dia e que ele está se esgotando.
Corro pra casa pra ele passar mais rápido, pro outro dia chegar e eu tornar a esperar o telefone tocar. Alguma coisa apenas.
Um velho casaco desmanchado e o novelo caído ao lado da cadeira. A promessa de não mais desmanchá-lo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cinco mulheres e duas garrafas de café

- hum...
- bom?
-prova!
-húúúúúmmmm
- bom mesmo?
- experimenta!
-humhúm!
- agora tá faltando tu provar, né????
- que tal?
- hummmmmmmmmhummmmmm
- hahahahaha....só falta eu!
- vai vai...e faz um "hum" diferente....
- humhumiuhumhuhmhuhmhu

( encontro das atrizes do vale do Itajaí)

sábado, 5 de abril de 2008

Coisa Séria!


(Uma reflexão feita sobre nossas raízes) Meio extenso, eu sei, mas quem sabe...


Plural, mas não Caótico


“...Sou Pataxó, sou Xavante Cariri, Yanomani sou Tupy, Guarani sou Carajá...sou Pancarurú, Carijó Tupinajé, Potiguar sou Caeté, Funiô Tupinambá....” Letra de uma música cantada, dançada e tocada por Antônio Nóbrega, artista que reúne todas estas qualidades e por isso denominado de “artista polivalente”; termo que a mim soa redundante pois que para ser artista é quase que necessário ser um pouco de tudo; vem traduzir um pouco das palavras escritas por Alfredo Bosi, ensaísta e crítico literário, em seu texto “Plural, mas não Caótico” no qual mostra-se evidente as diferentes influências culturais a que estamos e estivemos sujeitos ao longo dos anos.

Tudo o que somos, ou melhor, o que viemos construindo desde muito tempo, é uma somatória das marcas deixadas pelos nossos antepassados. É Necessário fazermos uma retrospectiva dos fatos para termos a devida compreensão de quem somos.

Antes mesmo da nossa colonização, como diz Nóbrega em sua música, já éramos Tupis, Guaranis, Caetés e tantos outros índios que habitavam estas terras. Mas não deixamos de ser, apenas fomos somando outras características, fomos nos misturando, criando novos ritmos, novas identidades., enfim acumulando informações. Podemos tentar ir além e ver que até mesmo as raças que perpetuavam-se entre si mesmas, foram de certa forma transgredindo essas regras, e como toda regra que tende a ser transgredida, surgem as raças que não são puras. Ora, podemos falar em pureza, perante tanta degradação a qual o ser humano sofreu diante de tanta barbárie e que se diziam perpetuadores da raça nobre? Assim, desvelando o manto que cobre regras e preceitos, a natureza do homem fala mais alto e promove-se a mistura delas.

Bosi, em seu texto, fala-nos do Caos que a princípio isso pode parecer, mas adverte que é necessário que nos distanciemos um pouco desse olhar simplista e generalizado para que então contemplemos tudo novamente, mas agora com uma nova mirada.
Hoje, certas hábitos afastaram-se do nosso cotidiano. Podemos perfeitamente escolher nossos maridos e esposas (salvo algumas seitas, religiões e alguns países) criar nossos filhos de uma maneira livre e um tanto quanto independente, escolher o nosso presidente assim como também destituí-lo, e várias outras coisas que em épocas remotas não podíamos fazer. Em contrapartida, temos a “ Perda da Memória Social” termo usado por Bosi, e que define bem o momento em que vivemos dentro desta sociedade que aliena suas próprias fantasias, suas próprias aspirações devido ao mecanismo ensandecido da tecnologia.
Há de se concordar, que os apelos a que somos submetidos todo o momento nas propagandas que se superam a cada dia; destinadas a um consumidor que há tempo perdeu a noção do que é realmente necessário para sua sobrevivência.; caracterizam o nosso momento socio-cultural e artístico. Tudo está inserido num ritmo muito industrializado, acelerado. Poderíamos usar as palavras do autor “...descartável...”.
Concordando com a profundidade na qual mergulhou o autor para as definições sobre este assunto que traz a tona toda a identidade de uma nação, me questiono também sobre quem seria essa “outra cultura”, e se realmente ela existe.
Ele nos diz, “de uma classe capaz de resistir ás baterias da civilização de Massa”, aqueles que teriam como suporte “sua capacidade de resistência”, atentando para dois tipos de classes. A Pobre, iletrada e a erudita. É claro que ao meu entender, o autor dirige-se a classe pobre, iletrada, mas também a que possui no seu íntimo a tradição muito arraigada, e que constitui algo perene em suas vidas. Assim, ela não se deixa contaminar tão facilmente pois que possui algo em que acreditar, algo em que se valer, consequentemente, perpetua seu ritual e seu folclore.
Já nas classes teoricamente elitizadas, o que o autor quer dizer é que existe algo que vem sendo adquirido por intermédio de uma escolarização, de um letramento que o difere dos outros no que toca a massificação por intermédio do que lhe é permitido apreender. Temos aquele que nada leu, nada conheceu além da produção massificante da industria dos signos. Logo, não terá referências para comparar, e aceitará tudo o que lhe estiver disposto mais facilmente e que não represente nenhuma dificuldade aos seus sentidos.
Essa velocidade de informações , aliada ao desdém com que são tratados os signos convertidos em arte, chegam ao mesmo tempo que desaparecem, e nenhuma importância fundamental lhes é dado, tornando-o vazio.

Em contrapartida, penso que não nos é dado o direito de questionar a “existência” da tecnologia, a qual, acredito de importância fundamental no progresso da humanidade, mas creio ser de suma importância atentarmo-nos para a maneira pela qual se está sendo difundida, seu valores, sua ética, sua forma, enfim, para que ela seja o veículo que promova o crescimento de uma cultura e não o acomodar-se dela. Porém, se sustentarmos a pré-condição de liberdade como forma atuante das ideologias artísticas e culturais, não estaremos nos prendendo ao formalismo que obstrui o canal criativo.

Segundo Bosi, a cultura “superior” seria em modos simplificado, a responsável pela perpetuação dos ideais culturais de uma nação, sendo que os mesmos teriam como condição básica o “ritmo da consciência histórica”. Esse ritmo estaria relacionado à possibilidade de fazer uma análise mais apurada o que comporia um dado importante no crescimento e perpetuação dos valores histórico-culturais.

Já no Brasil, esses fatos apresentam oscilações no que tange as relações com os diversos centros que influenciam nosso cotidiano. Somos a todo o momento questionados sobre a nossa existência, sobre a nossa cultura. Mas se pararmos para refletir, como nos sugere o autor deste ensaio, buscar na nossa consciência a verdadeira forma de pensar, nos mais intrínsecos hábitos que norteiam a nossa existência, mergulhando nas profundezas da nossa essência, podemos fazer ressurgir daí a nossa verdadeira cultura, que como toda cultura, é diversa, mas de maneira alguma, pode-se dizer caótica.

BOSI, Alfredo (org). Plural, mas não caótico. In: Cultura Basileira: Temas e situações. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1999, pp 7-15.