Guardado nos escombros que
restaram das itinerantes noites aflitivas, dragadas das profundezas calcárias dos
inabitados mundos submarinos, rasgadas e arrancadas do inconsciente puro e
devastador. A cada dia surgia, através de pequenos olhares subversivos e imaginários,
um novo modo de pensar a vida. Ela que ficou sempre trancada em seus armazéns a
sete chaves, pensando ser quase imperecível e intocável. Idealizada como algo
que jamais seria corrompida pela roda que gira, pela passagem do tempo, pela
impermanência.
Elle teorizava sobre a grande
corrida das coisas que o cercava. Elle somente queria sentir o vento que já não
era mais percebido pelas ondas de calor e frio que havia se tornado quase que
rotina dos seus dias naquela cidade úmida e chuvosa.
Certo dia acordou, e sentiu a
brisa suave, morna e seca, e por instantes não sabia dizer e nem sentir quem
ele era. Elle, Elle, Elle. Olhou no espelho e viu que seus cabelos tinham caído e nem se dera conta dos quantos
fios que já havia colhido do chão. Bateu continência, soltou o nó da gravata,
desabotoou o primeiro botão da camisa, sentou na beira da porta e olhou lá
fora.
Estava sozinho como havia tempos
que não ficava e isso o deixou feliz. Feliz por ter momentos de solidão.
Agora Elle precisava mudar. A porta
havia sido aberta e escapava de lá a sua imensa vida trancada, hermeticamente
fechada para não ser contaminada e nem corroída pela ação do tempo, pelas
intempéries e tormentas que poderiam danificar quaisquer das oportunidades
presas e represadas naqueles longos anos.
Então ele se esticou, respirou
fundo e se deixou levar pelos pensamentos, sentindo a brisa que ainda batia
suave, mas que agora ele já havia se acostumado e fazia parte daquela nova e
diferente sensação que o acometia.
Então Elle dormiu e sonhou!